quarta-feira, outubro 17, 2007

O Velho e o Nobel

A conjunção do início da leitura de Exit Ghost, com este post do Pedro Mexia, com a semana do conhecimento dos laureados criou por um momento a ilusão que Philip Roth ia ganhar o Nobel da literatura. Embora curta, por uns momentos tive essa esperança. O blogger desencantado puxa Urbano Tavares Rodrigues - a quem, certamente por azar meu, só ouço dizer parvoíces – que fala de "valores" e batalha contra o cinismo e na glória do optimismo antropológico. Confesso que muito disto é mais que suficiente para que não se atribua o famoso prémio a muita gente. Convém lembrar que o dinheiro é da fundação, e que a decisão foi atribuída à academia sueca, e ninguém tem nada a ver com isso. Mais, laureados questionáveis é o que mais há e não é preciso fazer grandes listas, tão fúteis quanto discutíveis. A razão por que Roth dificilmente ganhará o prémio tem sobretudo a ver com as temáticas recorrentes dos seus livros. A velhice nos seus aspectos mais sórdidos, o sexo e o desejo descontrolado, o abismo, a opção errada e sim o cinismo, a descrença na espécie humana. Mas sobretudo o olhar desapaixonado e de uma frieza clínica sobre a aventura americana, sobre os mitos, o bem pensar e algumas ilusões que ainda perduram. A literatura de Roth é essencialmente masculina. Conheço mulheres que até gostam dos seus livros, e até muitas que lhe reconhecem talento e apreciam a escrita, mas vêm com muita frequência nos seus personagens – com alguma razão, devo reconhecer - o pior dos homens. Não vêm outras coisas a que deviam prestar atenção, infelizmente. Assim, eliminamos logo cinco membros da academia, que mesmo sendo suecas, não deixam de ser mulheres. Ficam os homens. O mais novo tem cinquenta anos, quatro são mais novos que Nathan Zuckerman em Exit Ghost e um morreu. Sobram sete. Sete que tem mais de setenta e um anos. Que estão bem dentro do massacre que vivem as personagens, que são impotentes, incontinentes, que se apaixonam por jovens estudantes, por aspirantes a escritoras, que perdem para o cancro ou para os anti-depressivos os amigos, as amantes, as mulheres e que sentem de perto o “vento da asa da imbecilidade”. Como não compreender o aperto do coração quando se pensa em atribuir um prémio a quem nos fala tão terrivelmente próximo. Há dois que fumam cachimbo, talvez para o ano...

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