quinta-feira, novembro 02, 2006

A vida Moulinex

Aqui. Por variadas razões, nem sempre as melhores e nenhuma académica, frequentei durante vários anos a faculdade de Direito e o panorama não era diferente. Agora com as obras não sei como está. Mas na universidade por onde me arrastei anos demais, o panorama de desleixo para com as instalações não era muito diferente. O improviso, a má qualidade de construção, a colonização de espaços em todo o sentido desapropriados para qualquer função lectiva, aliados ao proverbial egoísmo e falta de respeito por tudo o que não seja o curtinho horizonte de quem por lá andava, dificilmente produz outra coisa que não seja gente para ser triturada pela vida. Muito contentinha com as suas pequeninas conquistas, mas um, dois, três... já está. Portugal passou rapidamente de um país miserável para um país remediado, sendo que esse remédio passa pelo carro, telemóvel com máquina fotográfica, plasmas e férias em praias desmioladas a seis ou sete horas de avião. Dirão, certamente com razão, que é assim em todo lado. Não é, ou por outra pode ser que seja, mas nesse "todo lado" místico existe também gente, pelo menos em quantidade suficiente, para que o resto funcione, para que existam livros traduzidos a tempo e horas, para quem o espaço público é um bem a que todos têm direito, para quem o cinema não é só para comer pipocas, vai ao teatro, aos museus, em suma, para quem é mais importante ser civilizado do que ter um BMW ou qualquer outro electrodoméstico da mesma gama. A culpa é de tudo o que queiram imaginar, mas nunca nossa. Não, a culpa é nossa. Por educarmos os nossos filhos com a mesma mentalidade de voragem consumista, o mesmo egoísmo, onde descarregamos a nossa frustração ou exercemos o nosso poderzinho pequenino, porque é mais fácil, porque senão dá trabalho, gozam com eles na escola e nós estamos tão cansados... É pena.