quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Talla 38 Zapatero

Confesso que no início até simpatizei com o homem. Ou por outra não com homem propriamente, pois foi logo anunciado como um poço de virtudes que não gostava de comer, não bebia álcool e era muito regrado na sua vida. Se fosse nórdico, suíço ou de um qualquer país cuja gastronomia e beberagem fosse pobre, ainda se compreendia, mas espanhol, é ser tosco. De resto, desconfio sempre de quem pouco preza os prazeres sensoriais. Mas apreciei o seu esforço de raspagem de alguns resquícios mentais do franquismo. Na minha ingenuidade, ou falta de inteligência ou mesmo numa junção catalítica das duas, não me apercebi que davam a metralhadora ao idealista. Assim temos aqui ao lado um “homem de esquerda”, dos que não têm dúvidas, dos que não têm medo, dos que sabem exactamente o que querem e nada os vai deter. De resto neste formato esquerda ou direita são muito parecidas. As medidas seguem-se segundo a cartilha mediática politicamente correcta. Tivemos o tabaco, tivemos os lenços palestinianos, tivemos a purificação memorial da guerra civil, temos de há uns tempos para cá os tamanhos padronizados. A cabeça destes senhores é que é padronizada, e o sonho deles é padronizar-nos a todos. As modelos com índice mínimo para proteger as adolescentes delas próprias, sem ter que as obrigar a crescer e pensar pela própria cabeça. Os manequins nas montras com tamanho 38 (imponham uma altura máxima antes que alguém descubra que se obtém o mesmo efeito delgado aumentando-a). Segundo um “Público” (já nem procuro links) da semana passada, agora vamos adaptar os tamanhos “à mulher real”. Assim mesmo “à mulher real” (juro que por um momento pensei que a medida era a da rainha Sofia). Mas não. Diz a ministra da coisa:

“Não é razoável que numa sociedade moderna e avançada se criem estereótipos de beleza desfasados da realidade. É um compromisso de todos que a beleza e a saúde andem de mãos dadas”.

Não sei por onde começar. Julgar as mulheres com base na aparência física não é de porco machista? Não havia para aí umas campanhas que nos convidavam a vivermos com o nosso próprio corpo? Devo viver angustiado por ser casado com uma mulher desfasada dessa tal realidade ou por gostar de mulheres desfasadas dessa tal realidade? Vão obrigar a engordar que é magro? Vão proibir roupas com tamanhos pequenos? Ou os tamanhos pequenos são todos da Floribella para evitar a sua utilização a partir dos dezasseis anos? Afinal o que mata mais no mundo ocidental é a anorexia ou a obesidade?

Talvez explicar a esta espécie de Jdanovistas higiénicos que os estereótipos de beleza foram sempre desfasados da realidade. Talvez dizer-lhes o truque dos números menores já está gasto. Talvez o melhor fosse explicar que em vez de ajustar os tamanhos à realidade “como factor preventivo da baixa auto-estima” como pretende a Drª Isabel do Carmo (Deus nos livre de algum dia tal alma ministrar as nossa barrigas), é mesmo melhor obrigar as pessoas a ser crescidinhas. Dá mais trabalho, leva mais tempo, mas garanto que tem resultados muito melhores.

P.S. – O Aston Martin que está à venda no stand perto da minha casa está completamente desfasado da realidade do meu Toyota Corolla. Não se pode fazer nada por isso?

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