O paradoxo motociclístico português
Há muitas coisas estranhas em Portugal. Há naturalmente muitas coisas estranhas em muitos países. Por cá uma das que mais me fascina é a relação dos indígenas com as motas. Já me explicaram, detalhadamente por vezes, que é mais correcto dizer moto, mas sou prefiro mota sem conseguir explicar a razão. Até hoje tive duas motas e meia. Duas minhas a meia era do meu primo, que como dormia em casa dos meus pais, andava com ela muitas vezes. Durante o primeiro ano basicamente ia à Praia Grande, ao Cabo da Roca e pouco mais. Depois fartei-me de esperar à noite por transportes públicos, e apanhar frio nas paragens de autocarro, estações de comboio ou rua acima, passei a chegar gelado ou encharcado a casa, mas em muito menos tempo. A partir de Abril as coisas melhoravam, mas nem sempre, porque para lá do Cacém o boletim meteorológico é o da Normandia. De qualquer modo lá andei uns oito ou nove anos diariamente de mota, até que foi viver a uns bons vinte e tal metros do meu trabalho que mesmo sendo sempre a subir quando saio cansado ao fim do dia, não me pareceu muito cómodo calçar botas, luvas e por capacete para essa distancia. Assim a desgraçada da mota, a segunda, lá permanece sujeita a paragens mais ou menos prolongadas com ocasionais idas a Faro, passeios meio de raiva ao fim-de-semana ou “…hoje vou almoçar à Marateca…” a meio da semana. Esta inactividade poupa em gasolina e revisões o que gasta e baterias, força para a empurrar a máquina para pegar e enche o ar de palavrões por não ter desligado os cabos.
Serve este intróito para reflectir sobre a convivência dos portugueses com os ditos animais motorizados. Sempre que chego a algum sítio de capacete, blusão manhoso e cabelos desalinhados alguém comenta, que sim senhor, assim não se apanha trânsito – sempre achei a expressão “apanhar trânsito” curiosa - há sempre estacionamento, o meu filho também anda mota, já pensei em comprar uma, toda a sorte de comentários. Durante anos respondi com um sorriso amarelos de quem pede desculpa. Descobri posteriormente que é muito mais interessante perguntar, porque é que não compra uma? Uns calam-se, outros sorriem, a outros dá-lhes para a filosofia. Descobre-se então que as motas são perigosas, uma evidência para já tenha feito mais que duzentos e cinquenta metros montado numa. É uma chatice aquilo das luvas do capacete e tal. Uns gajos das motas são uns selvagens – corrente com muito mais adeptos do que se poderia pensar. Não tenho tempo; não tenho dinheiro; dá muito trabalho e por fim a minha favorita, já pensei nisso, mas quando comprar vai ser um motão. Um g’anda motão - fazem mesmo questão de salientar alguns.
Dir-se-ia que em torno de Lisboa - para citar o exemplo de cidade que conheço melhor - existem condições para se circular de mota, mesmo que sem qualquer paixão especial, como um meio de transporte. Não chove uma boa parte do ano; os acessos são um inferno; não se estaciona; estamos na vanguarda da Europa no que toca a preços de combustíveis; as vias de circulação, longe de serem perfeitas e isentas de armadilhas, são seguramente muito melhores que quando eu comecei a circular de mota. Boas razões para um número significativo de pessoas considerarem este meio de transporte. Mas não. Certa vez um director de uma revista contava que numa capital europeia, Paris ou Londres, depois de um gigantesco aguaceiro se viam mais motas que num ameno dia de verão em Lisboa. Se no deslocarmos a qualquer cidade grande do sul da Europa - mesmo restringindo a Espanha e Itália - é incrível a quantidade de scooter´s que circulam e ainda mais espantoso o tipo de pessoas que as usam. Homens ou mulheres; novos, velhos ou de meia-idade, arriscaria que uma boa parte da população em algum momento da vida usa duas rodas e um motor para circular. O desenvolvimento destes segmentos, destinados a quem está de passagem ou que procura sobretudo despachar-se, sem as complicações das motas grandes, com espaços de arrumação é um espelho da importância que eles assumem para as marcas e o peso que em alguns países têm. Acrescenta-se ainda a directiva que numa parte significativa da Europa permite que detentores da carta de ligeiros conduzam motas até determinada cilindrada e/ou potência. Francamente depois de anos a olhar para este panorama creio que neste jardim à beira-mar plantado nada funciona. É um dos capítulos em que ainda não passámos da fase do estrume. Mas falamos e discutimos e escrevemos muito, basta contar as sei lá quantas revistas de motas que sobrevivem não imagino como. Infelizmente, motas a andar na rua …
Serve este intróito para reflectir sobre a convivência dos portugueses com os ditos animais motorizados. Sempre que chego a algum sítio de capacete, blusão manhoso e cabelos desalinhados alguém comenta, que sim senhor, assim não se apanha trânsito – sempre achei a expressão “apanhar trânsito” curiosa - há sempre estacionamento, o meu filho também anda mota, já pensei em comprar uma, toda a sorte de comentários. Durante anos respondi com um sorriso amarelos de quem pede desculpa. Descobri posteriormente que é muito mais interessante perguntar, porque é que não compra uma? Uns calam-se, outros sorriem, a outros dá-lhes para a filosofia. Descobre-se então que as motas são perigosas, uma evidência para já tenha feito mais que duzentos e cinquenta metros montado numa. É uma chatice aquilo das luvas do capacete e tal. Uns gajos das motas são uns selvagens – corrente com muito mais adeptos do que se poderia pensar. Não tenho tempo; não tenho dinheiro; dá muito trabalho e por fim a minha favorita, já pensei nisso, mas quando comprar vai ser um motão. Um g’anda motão - fazem mesmo questão de salientar alguns.
Dir-se-ia que em torno de Lisboa - para citar o exemplo de cidade que conheço melhor - existem condições para se circular de mota, mesmo que sem qualquer paixão especial, como um meio de transporte. Não chove uma boa parte do ano; os acessos são um inferno; não se estaciona; estamos na vanguarda da Europa no que toca a preços de combustíveis; as vias de circulação, longe de serem perfeitas e isentas de armadilhas, são seguramente muito melhores que quando eu comecei a circular de mota. Boas razões para um número significativo de pessoas considerarem este meio de transporte. Mas não. Certa vez um director de uma revista contava que numa capital europeia, Paris ou Londres, depois de um gigantesco aguaceiro se viam mais motas que num ameno dia de verão em Lisboa. Se no deslocarmos a qualquer cidade grande do sul da Europa - mesmo restringindo a Espanha e Itália - é incrível a quantidade de scooter´s que circulam e ainda mais espantoso o tipo de pessoas que as usam. Homens ou mulheres; novos, velhos ou de meia-idade, arriscaria que uma boa parte da população em algum momento da vida usa duas rodas e um motor para circular. O desenvolvimento destes segmentos, destinados a quem está de passagem ou que procura sobretudo despachar-se, sem as complicações das motas grandes, com espaços de arrumação é um espelho da importância que eles assumem para as marcas e o peso que em alguns países têm. Acrescenta-se ainda a directiva que numa parte significativa da Europa permite que detentores da carta de ligeiros conduzam motas até determinada cilindrada e/ou potência. Francamente depois de anos a olhar para este panorama creio que neste jardim à beira-mar plantado nada funciona. É um dos capítulos em que ainda não passámos da fase do estrume. Mas falamos e discutimos e escrevemos muito, basta contar as sei lá quantas revistas de motas que sobrevivem não imagino como. Infelizmente, motas a andar na rua …
Etiquetas: motas, Paradoxos Portugueses
1 Comments:
O futuro do transporte urbano são as bicicletas, pá!
:D
viva o Bestum!
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