terça-feira, maio 23, 2006

O drama português

O debate desta noite foi uma triste imagem de Portugal, personificada numa figura habitada por uma dupla personalidade. Existe o Professor Manuel Maria Carrilho, eminente filósofo, com obra produzida e reconhecida por muita gente, valorizada até por quem dele discorda. Não tenho qualquer capacidade ou conhecimento para discutir o que quer que seja da obra e reconheço-lhe o valor, repito, pela forma elogiosa que fala mesmo quem dela discorda cientificamente. Existe depois o menino carrilho, adulto vaidoso e inseguro, cheio de si e com um relação nevrótica com o mundo, alicerçada na necessidade permanente de atenção, recorrendo ao que for necessário para tal. É próprio das crianças reagirem com gritos ou berrarem insistentemente até que reparem nelas. É desejável que o processo de crescimento encaminhe as personalidades para uma relação equilibrada com os outros e com o mundo. Um dos dramas da sociedade portuguesa passa muito por aqui, por um lado somos uns “gajos porreiros”, adaptamo-nos a tudo, temos realizações geniais, por outro, não crescemos, gritamos por atenção, não reconhecemos os erros, ou existe sempre uma razão maior e incontrolável que nos supera e sobretudo que nos isenta de qualquer responsabilidade. Eu não serei excepcional, e portanto não me posso excluir desta análise, mas ainda assim há um aspecto que ultrapassa a minha percepção, mais que ultrapassa, é para mim do domínio do ininteligível, como é que um individuo que é acusado de alterar entrevistas, de cortar o que não lhe convém, e pior, pois as entrevistas podiam ser editadas por várias razões, de acrescentar coisas que não disse, e que poderiam ter sido acrescentadas como comentário, permanece calmamente sentado impávido, e ainda tem o desplante de acusar os outros ser uma vergonha? Ou não é verdade, e se me acusassem de tal, provavelmente levantava-me e saía para não pregar um par de estalos em alguém, ou levantava-me e saía para não voltar a aparecer. Mas não, o menino carrilho culpa os outros, todos os outros que não o rodeiam da atenção e das vénias que ele entende merecer, cego aos dislates que faz e que diz, cego à mais gritante evidência da sua própria responsabilidade. Triste é o país que no século XXI tem estas exibições para oferecer como debate de duas horas e meia, é uma mediocridade que rasteja e que nos condena a uma espécie de inviabilidade como nação.