segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Goodbye Maria Ivone

A ASO anunciou a mudança de armas e bagagens para as pampas. Era de esperar que não se repetisse o cenário africano, pelos menos durante dois ou três anos. Os mais optimistas dizem que será só um ano. Uma coisa parece certa – Lisboa, jamé. Se o Dakar voltar a passar por lusitanas terras será, quase certamente, no reino dos Algarves. Ou Allgarve, como parece que é bem dizer. Pouco importa, são (para já) contas de outro rosário. A mudança - e eu desejo as melhores felicidades à coisa – é pouco prometedora. Não se constrói um passado como o do Dakar de um momento para o outro. Note-se que durante muitos anos foi uma prova de genuína carolice, de muito amadorismo. E esse sacrifício inicial, quase mesmo iniciático, deu um balastro de lenda que nenhuma prova conseguiu igualar. Recordo que existem provas de todo-o-terreno mais antigas, que foram feitas tentativas de criar provas diferentes, que se cumpriu o objectivo de chegar ao Cabo - sonho inicial de Sabine. Existem rallies pelos vários desertos, alguns com reputação e listas de concorrentes sonantes, mas cujo objectivo era em grande medida preparar o Dakar. Porventura serei um pouco injusto com algumas provas, mas nenhuma, em lado nenhum teve a dimensão e lendária deste rally. Já escrevi sobre a aventura, a morte e o fim, ou pelo menos, o interregno. Agora vai-se para a Argentina e arredores. Lamento, repito que desejo as maiores felicidades aos organizadores, e seria até interessante que outras provas vingassem em ambientes diferentes, mas o património de África não é transportável para lado nenhum. E o Dakar é África, por mais voltas que dêem, por melhor que embrulhem o rebuçado.

Creio que se voltará a África, e talvez mais cedo do que se pensa, sobretudo por pressão das próprias marcas e patrocinadores. As provas em sítios exóticos não comovem muito o público europeu e creio que ainda não criaram suficiente impacto noutros continentes. Os tempos mudam, e para as bandas da Ásia estão a mudar muito depressa, se o Dakar morrer, eu já vi morrer algumas provas que eram míticas e eternas, paz à sua alma. Será bem a demonstração de como estamos encalhados no nosso medo, será mais uma nuvem negra sobre o futuro da Liberdade.

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1 Comments:

Blogger Henrique Maia said...

Concordo contigo. O Dakar é o deserto, aquele imenso deserto, e a força necessária para o vencer. Essas tretas de o levarem para outro lado é como aquelas reedições do Woodstock - só servem para se aproveitar do nome.

terça fev. 12, 01:21:00 da manhã 2008  

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