An affair with isolation
O pior não é caminhar pelos jardins desolados do Campo Pequeno, ser acompanhado pelos fantasmas da Feira Popular e quase atropelado em Entrecampos. Esmagado pelo monstro silencioso da Biblioteca Nacional, passar pela “111” fechada (a arte devia estar sempre aberta…), subir a Alameda ladeando tardozes pardos entre árvores e carros suspeitamente estacionados no escuro. O pior não é terem feito da entrada principal da Aula Magna, que de qualquer modo já não dava para lado nenhum, um estacionamento, nem a bilheteira ser um “L” de duas mesas de faculdade numa porta exterior aberta. O átrio ridículo, os tectos de uma cor funda indefinida, ou de um creme doentio a iluminação manhosa que agrava a pedra verde das paredes ou os painéis de mosaico tapados por bancas de vendas improvisadas. O pior não é o bar, qual roulotte de bifanas gordurosas, que aterrou na mezzanine, não é o balcão nem as mesas nem sequer as cadeiras. Nem mesmo a sandes mista em pão meio mole e a cerveja amarga com pouco gás. O pior não é as cadeiras forradas a verde bilioso ou as cadeiras extras de plástico preto (sim, daquelas de jardim…). Nem a primeira parte com uma progressiv metal band foleira, com som mau que por vezes tornava incompreensível o vocalista. O pior não é os quilos a mais, os comícios anti-Bush-Blair-Guerra-do-Iraque seguidos dos aplausos desmiolados do costume. Nem as primeiras músicas dos álbuns a solo, o Rossini no intervalo, mais uma vez com um som horrível. O pior não é comemorar vinte anos de Misplaced Childhood com hippies de vinte anos todo o concerto em danças exóticas, barrigudos em t-shirt’s de alças camufladas ou dos Marillion ruças pela idade do disco. Não é a falta de cheiro a haxe, nem o cheiro a peido com que um vizinho de concerto nos brindava alegremente. O pior não é os enganos na letra, as fífias ou a falta de electricidade a alguns instrumentos num dos momentos introspectivos. Nem mesmo o facto de eu próprio saber ainda as letras decoradas em longas horas gastas na CP e na Carris. O pior não é no fim de tudo, depois de em encore, e em coro, termos passado por Incommunicado, Market Square Heroes e Fugazi, e mesmo com uma dor de cabeça que me faz velho demais para estas andanças, ter gostado de voltar a ser o bleeding heart poet dos dezasseis anos. O fim da linha, o pior de tudo é sair do concerto, voltar a pé para casa sem ter o meu walkman amarelo com a cassete do Real to Reel e Fish a gritar-me aos tímpanos “…just another forgotten son.”
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