terça-feira, abril 15, 2008

Os dias do fim

Existe nas tragédias gregas um momento em que as personagens têm o poder de mudar o rumo dos acontecimentos e evitar o cruel destino que se avizinha. Mas um gesto, uma atitude, uma recusa ou aceitação, empurra-os pela ladeira e precipita o fim anunciado. Claro que se essa perdição fosse evitada não existiria tragédia, aspecto útil na condução das nossas vidas mas conclusão tosca para se olhar para a literatura. O PSD entrou há alguns anos nesta vertigem e o futuro aponta, com a mesma inevitabilidade para o negrume. Serve esta simplificação literária para apontar o momento em que Durão Barroso, deixando a amargurada Pátria para rumar à mais prazenteira Europa, como o inicio do drama puro e duro. Na minha inocência, ou diria mesmo obtusidade analítica, convenci-me que seria Manuela Ferreira Leite a tomar o leme do governo e a desgraça seria evitada. O mandato cumprido até ao fim e mesmo sendo provável a vitória do PS nas eleições seguintes, esta seria com maioria relativa. A vida governamental teria sido muito mais difícil, e as trapalhadas dos ministros, aeroportos, pontes, licenciaturas, arquitectura típica, pinhice crónica e outras que já muito há que poderiam ter lançado o PS para o seu habitual regime de facções autofágicas. Mas o PSD estava no seu momento grego, tirou da cartola Santana & amigos, a cadeia de acontecimentos torna-se incontrolável e tudo escapa ao controle dos mortais. Os nossos heróis ainda resistem atabalhoadamente com Marques Mendes, mas o destino estava traçado e no desfecho abate-se a temível bipolaridade negativa Menezeana que se caracteriza por alternar entre o disparate e o grande disparate. De todo o lado neste partido surgem criaturas dignas de um exército das trevas, desde o intrépido Ribau, ao inacreditável Marco António até ao sinistro Correia (que entretanto parece querer saltar do barco), o PSD parece uma nau de loucos em chamas a navegar sem rumo. Para completar o quadro imagino mesmo que por trás, qual deus grego, Sampaio conspirava para remover Ferro Rodrigues, ferido de morte política e já sem pés onde dar mais tiros, perscrutando no oráculo um nome filosófico, que afinal também dominava outras valências do conhecimento. Nem sempre as melhores, nem da melhor maneira…

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