Hoje e amanhã os professores fazem greve. É um direito que lhes assiste, que de modo algum contesto ou ponho em causa. È uma das conquistas mais basilares da liberdade que nos trouxe o 25 de Abril, e por isso respeito a decisão dos professores em geral, e no caso particular, da professora dos meus filhos. Devido à greve não vou trabalhar ou na melhor das hipóteses trabalho a espaços em casa e como resultado imediato, para além de ter que entreter as crianças, perco dois dias de trabalho. Embora pertença à mal afamada corja dos recibos verdes -os tais que parece que declaram o ordenado mínimo, embora ganhem rios de dinheiro “por fora” - sendo pago à hora e, pese embora, já ter sido beneficiado pela generosidade da entidade empregadora em tempos de maior folga orçamental, na realidade não tenho direito a subsídios de férias, natal nem tenho os dias de férias pagos. Portanto, apesar da facilidade de ter um horário flexível, um “chefe” compreensivo e generoso quando pode, a realidade é que estes dois dias não me são pagos. Quanto muito serão recuperados em noites de trabalho, roubadas à família, à leitura, ao cinema ou simplesmente à preguiça. Mas reafirmo o que disse no início do texto, e estou disposto a este sacrifício para que os professores possam lutar pelo que julgam ser justo. Através das informações que passam pelos jornais, pelo contacto que tenho com alguns professores, a mobilização na manifestação do passado dia cinco de Outubro (e o gritante obscurecimento com que a RTP brindou o facto), parece-me que existem algumas razões válidas de protesto por parte dos professores. Mas aqui surgem dois problemas; primeiro, ninguém contesta a necessidade e urgência das várias reformas, desde que não comecem por nós; segundo, os sindicatos, e inevitavelmente os próprios professores, que durante os últimos trinta anos gritaram “fogo!” a torto e a direito, não podem esperar que agora os tomem demasiado a sério. Quem penou durante vários anos na linha de Sintra e transportes colectivos afins, ficou vacinado contra as greves sazonais, cujo resultado hoje traduz-se num conjunto de regalias salariais e outras fora do alcance da maioria dos restantes trabalhadores. O capital reivindicativo foi desbaratado pelos sindicatos em sucessivas acções, que embora com adesões reais muito variáveis, cansaram a generalidade da opinião pública para os protestos de qualquer classe laboral. Acrescento ainda que a pouca variação das personagens e do discurso torna tudo mais difícil. A maioria, que de uma forma ou de outra, também é afectado pela actual fúria reformadora, encara esta situação como mais uma greve, mais uma chatice, mais um dia sem aulas e, temo, mais apoio para às políticas do governo, pelo menos, nas que os não afectam...