terça-feira, novembro 29, 2005

Para T.

Da grande página aberta do teu corpo

Da grande página aberta do teu corpo
sai um sol verde
um olhar nu no silêncio de metal
uma nódoa no teu peito de água clara

Pela janela vejo a pequenina mão
de um insecto escuro
percorrer a madeira do momento intacto
meus braços agitam-te como uma bandeira em brasa
ó favos de sol

Da grande página aberta
sai a água de um chão vermelho e doce
saem os lábios de laranja beijo a beijo
o grande sismo do silêncio
em que soberba cais vencida flor

António Ramos Rosa

O fantástico mundo dos homens casados

Fazer um jantar de aniversário de casamento. Queimar-se com o caril. Dar um pontapé na máquina de lavar-loiça. Acabar de jantar. Arranjar a porta da máquina de lavar-loiça. Trocar os contactos do programador e a máquina deixar de funcionar. Ir para a cama a dizer asneiras. Levantar-se a meio da noite e ir arranjar a máquina de lavar-loiça. Conseguir...

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sexta-feira, novembro 25, 2005

A luz de Lisboa

Ontem numa entrevista na TSF Villa-Matas dizia (e cito de memória, e seguramente com imprecisão...) que uma das razões que o levou a ficar em Barcelona e não voltar a Paris foi o sol de Inverno no terraço de casa dos pais. Isto recordou-me da primeira vez que me apercebi da luz de Lisboa, justamente depois de uma semana em Paris, em que entre alguns dia cinzentos, houve dois de sol como, segundo os indígenas, há muitos meses não havia. Voltei para Lisboa já noite, mas no dia seguinte ao entrar no atelier achei que estava uma luminosidade espantosa, levei algum tempo sentado na soleira da porta até me aperceber de que era esta a famosa luz de que tanto se fala, e que ainda hoje não encontrei em lado nenhum...

Este homem...



...é o maior erro de "casting" deste governo...

quinta-feira, novembro 24, 2005

Porque...

...é que a RCP - Rádio Clube Português - não muda o slogan de "a melhor música de sempre", para "a mesma música de sempre" ou até "sempre a mesma música"...

Presidenciais XIV

Blog de consulta obrigatória sempre, mas em particular nestas alturas...

Arrogância cultural

Paulo Gorjão levantou a lebre e genericamente concordo com o que tem exposto. Mas o problema hoje parece-me mais fundo, já não é o "não saber", por que o normal é "não saber", e quem quiser, e tiver tempo, disponibilidade e, mais importante, vontade pode "saber". Já não é o "não querer saber", que pode ser uma opção, lamentável, é certo, mas isso é a minha opinião. O que me assusta hoje em dia é o "isso não interessa para nada", é o triunfo da ignorância, não no sentido de serem mais, porque sempre e em todo o lado foram a maioria, mas como forma de estar e de ser.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Este blog...

...passou a ter um endereço electrónico.

"Reclamações, protestos, insultos, opiniões, excitações para arco_do_cego@hotmail.com"

terça-feira, novembro 22, 2005

Presidenciais XIII

Oiçam o Resendes...

Os climas de vitória antecipada dão mau resultado.

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sexta-feira, novembro 18, 2005

chapeau!


Trinta anos depois...



(O preço está em libras, mas foi o que se arranjou)

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Presidenciais XII

Um efeito menos feliz das campanhas eleitorais é exibirem o desnorte de algumas pessoas . O apoio de Medeiros Ferreira a Mário Soares tem razões sólidas e seguramente válidas, mas custa assistir ao seu embarque nos maiores disparates por onde anda a campanha de Mário Soares. Não sendo o meu candidato, é perfeitamente natural que esta candidatura suscite apoio e entusiamo em vários quadrantes, mas ao ponto de ter que defender tudo o que o candidato diz revela, ou um desconhecimento da personagem, que, ultimamente diz tudo o que lhe vai na cabeça e acha que não tem que justificar o que quer seja, ou um seguidismo tonto mais próprio de outra gente e de outros regimes. Como já disse anteriormente, temo que a descida do nível continue...

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quinta-feira, novembro 17, 2005

Presidenciais XI

Eis o que este vosso dactilógrafo pensa mas escrito por um escritor...

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quarta-feira, novembro 16, 2005

Presidenciais X

A entrevista de Cavaco Silva não foi grande coisa, mas também não achei a entrevistadora o espanto que para aí se diz...

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terça-feira, novembro 15, 2005

Presidenciais IX

Presidenciais VIII

Depois deste post de Joana Amaral Dias, bem revelador do caminho que a campanha vai levar, temos o argumento da vingança de Cavaco Silva, Quantas vezes se tentou vingar Mitterand?..

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Presidenciais VII

Prognósticos antes de jogo.

Cavaco Silva ganha com alguma folga, e naturalmente à primeira. Duas reservas, se a campanha que fizer (e tarde ou cedo vai ter que fazer…) se revelar desastrosa pode complicar-lhe a vida, e nunca se pode descartar uma surpresa de Mário Soares…

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Presidenciais VI

Este deveria ter sido o post inicial desta série, mas um conjunto de factores empurrou-o para hoje. O meu candidato é Cavaco Silva. É facto que não aprecio especialmente o homem, mas é o único que me dá garantias de uma presidência serena e capaz de transmitir ao país a confiança necessária neste momento.
Vamos por partes, não é com alegria que vejo as candidaturas existentes. Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã não me interessam, um representa a pior demagogia de esquerda, o outro luta pela sobrevivência de um mundo que morreu à muito. Os restantes candidatos são, embora uns mais que outros, velhos actores da política portuguesa, e representam bem o tradicional e péssimo hábito de olhar sempre para trás. Mário Soares será, talvez o político português mais importante do séc. XX, com especial incidência no período pós-revolucionário, e a quem devemos a democracia que hoje temos, mas acho completamente ridículo querer voltar a ser presidente, até porque, e dado a quantidade de posições, de declarações que deu nos últimos anos tenho sérias dúvidas que tipo de presidente seria. Manuel Alegre…
(Um parágrafo à parte, Manuel Alegre é poeta, e um dos maiores de Portugal, poucas coisas existem neste mundo mais bonitas que a poesia, e só por isso um cantinho do meu coração vota nele… )

O meu voto em Cavaco Silva é uma questão racional, não simpatizo muito com o homem, como já disse, mas dos que estão no terreno será o que melhor poderá desempenhar essas funções.

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O fantástico mundo dos homens casados

Top five dos trabalhos domésticos mais destestados

  • Dar de comer às crianças
  • Estender a roupa
  • Apanhar a roupa
  • Fazer a cama (mesmo sem a presença da minha mulher…)
  • Tirar a loiça da máquina de lavar

    ( ... e passar a ferro?

    -Passar a ferro?.. só se fosse para estragar roupa…)

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sexta-feira, novembro 11, 2005

Le retour des camarades

Uns têm morte anunciada, outros nascem nascem, é a vida...

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quinta-feira, novembro 10, 2005

O fantástico mundo dos homens casados

Deixamos uma mulher giríssima, elegante e bem arranjada sair de casa pela manhã, vamos ter com ela ao fim da tarde, recebe-nos com um sorriso (porque trazemos os filhos no banco de trás...), jantar, história aos pequenos, e quando esperávamos poder vê-la com outros olhos, num passe de mágica, aparece-nos com o pijama mais pingão que tem em casa...

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Grandes mistérios da engenharia portuguesa

Acertar as tampas de esgoto e das caixas de visita com o nível do asfalto...

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quarta-feira, novembro 09, 2005

É muito...

mais complicado do eu pensava alinhar ideias com clareza num texto curto. Isso e a falta de tempo não tem ajudado...

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terça-feira, novembro 08, 2005

Alergias

J. diz que não consegue arrumar livros porque é alérgico ao pó e começa a espirrar. O meu problema é a alergia ao verbo arrumar...

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França

De algum modo em França decide-se o futuro da Europa, e pela amostra não é brilhante. Em primeiro lugar existe um problema de ordem pública, que já devia ter sido resolvido há muito, e cujo arrastar tem como efeito imediato o possível aparecimento de milícias, criando mais um problema ás autoridades, e a um prazo mais longo, e com consequências mais graves, o fortalecimento da extrema direita, que, é bom recordar, já representa 15% do eleitorado. O modelo francês não funcionou e criou, pela dependência de subsídios, uma situação que muito difícilmente será alterada num futuro mais ou menos próximo. Estes actos de vandalismo, feitos por gente que vive em bairros pobres, mas que estão a anos-luz das bidonvilles dos imigrantes dos anos 60, cuja guetização são em parte responsáveis, que vivem num caldo de violência, cuja subsidiação nunca criou a necessidade de empreendimento é, e espero estar enganado, uma geração perdida. É necessário que os apoios dados a esta população sejam um estímulo à ascensão social, porque só assim é possível sair do círculo vicioso em que eles estão mergulhados. Existe também a necessidade de um equilíbrio entre os costumes de cada um e as regras da sociedade, e a "lei do véu", mudar peças de teatro de cidade, ou retirar obras de arte de exibição, para não ofender o grupo A ou B é um péssimo sinal do futuro dos direitos que na Europa levaram muitos anos e custaram muitas vidas a conquistar.
A Europa sempre foi um continente de movimentações populacionais e neste momento necessita de imigrantes, por variadas razões, mas é imperioso que estes se tornem europeus no que a Europa tem de melhor, o respeito, a tolerância e a aceitação das diferenças, e o direito que cada um tem em viver a sua vida conforme achar melhor, dentro obviamente dos limites da lei. A condescendência e o paternalismo com que durante anos foram tratados estes problemas, por vários governos, de várias orientações políticas conduziu ao que hoje se asssiste nos subúrbios de Paris e outras cidades.

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segunda-feira, novembro 07, 2005

Presidenciais V

Flashback, ao que deveria ter sido o primeiro texto, oportunamente...

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Aos navegadores

Ainda não tenho novas...

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França

Para mais tarde, quando tiver tempo.

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sexta-feira, novembro 04, 2005

AVE CESARiny

O poeta chorava...

O poeta chorava
o poeta buscava-se todo
o poeta andava de pensão em pensão
comia mal tinha diarreias extenuantes
nelas buscava Uma estrela talvez a salvação?
O poeta era sinceríssimo
honesto
total
raras vezes tomava o eléctrico
em podendo
voltava
não podendo
ver-se-ia
tudo mais ou menos
a cair de vergonha
mais ou menos
como os ladrões

E agora o poeta começou por rir
rir de vós ó manutensores
da afanosa ordem capitalista
comprou jornais foi para casa leu tudo
quando chegou à página dos anúncios
o poeta teve um vómito que lhe estragou
as únicas que ainda tinha
e pôs-se a rir do logro é um tanto sinistro
mas é inevitável é um bem é uma dádiva

Tirai-lhe agora os poemas que ele próprio despreza
negai-lhe o amor que ele mesmo abandona
caçai-o entre a multidão
crucificai-o de novo mas com mais requinte.
Subsistirá. É pior do que isso.
Prendei-o. Viverá de tal forma
que as próprias grades farão causa com ele.
E matá-lo não é solução.
O poeta
O Poeta
O POETA DESTROI-VOS

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A mulher de trinta anos

"Uma mulher de trinta anos tem atractivos irresistíveis para um jovem; nada de mais natural, de mais fortemente encadeado, de melhor preestabelecido que a afeição profunda, de que tantos exemplos nos oferece a sociedade, entre uma mulher como a marquesa e um jovem como Vandenesse.
Com efeito, uma rapariga tem demasiadas ilusões, excessiva inexperiência, e o sexo é demasiado cúmplice do seu amor, para um jovem poder sentir-se lisonjeado; enquanto que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios a fazer. Se uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas às do amor, a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, a outra escolhe. Esta escolha não é imensamente lisonjeira? Armada com uma experiência quase sempre paga, por alto preço, com infelicidades, ao dar-se, a mulher experimentada parece dar mais do que ela própria, enquanto a jovem, ignorante e crédula, como não sabe nada, nada pode comparar, nada apreciar; aceita o amor e estuda-o. Uma instrui-nos, aconselha-nos, numa idade em que gostamos de ser guiados, em que a obediência é um prazer; a outra quer aprender tudo e mostra-se ingénua naquilo em que a primeira é tema. Aquela só permite um único triunfo; esta obriga a combates perpétuos. A primeira só tem lágrimas e prazeres, a segunda só voluptuosidades e remorsos. Uma jovem, para desempenhar o papel de dominadora, deve ser demasiado corrupta, e então é abandonada com horror; enquanto que uma mulher tem mil meios de conservar, ao mesmo tempo, o seu domínio e a sua dignidade. Uma, demasiado submissa, oferece a triste segurança da tranquilidade; a outra perde muito por não pedir ao amor as suas mil metamorfoses. Uma desonra-se sozinha, a outra mata uma família inteira por aquele a quem ama. Uma jovem só tem um atractivo e julga ter dito tudo quando se despe; mas a mulher tem-nos em grande número e oculta-os sob mil véus; em suma, afaga todas as vaidades, enquanto que a noviça só lisonjeia uma. Excitam, aliás, as indecisões, os pavores, o medo, as perturbações e as tempestades da mulher de trinta anos, que não se encontram nunca no amor duma rapariga. Chegada àquela idade, a mulher pede a um jovem que lhe restitua a estima que lhe sacrificou; só vive para ele, ocupa-se do seu futuro, deseja que tenha uma bela vida e torna-lha gloriosa: obedece, suplica e ordena, rebaixa-se e eleva-se, e sabe consolar em mil ocasiões, em que a jovem só sabe lamentar. Finalmente, além de todas as vantagens da sua posição, a mulher de trinta anos pode tornar-se rapariga, representar todos os papéis, ser pudica, e embelezar-se até com uma infelicidade. Entre ambas encontra-se a incomensurável diferençado previsto para o imprevisto, da força para a fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz a tudo; a jovem, sob pena de não o ser, não deve satisfazer a nada."

Honoré de Balzac

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Presidenciais IV

Não vi a entrevista de Mário Soares, mas avaliando pelas diversas opiniões fico com pena. Muito se falou da superioridade cultural de Soares, aspecto sobre o qual não há dúvidas, mas acontece que o povo tem mais tendência a identificar-se com o "filho-do-gasolineiro-que-subiu-na-vida" e, mesmo reconhecendo a sua ignorância, gosta pouco que lhe atirem com ela à cara. O discurso Soares iniciou uma descida que vai fazer parece a campanha de Basílio Horta um programa infantil, sendo óbvio que os que na altura lhe chamavam "homem das cavernas", agora vão achar que o "Mário está sublime na sua liberdade de dizer o que pensa" e que a "ordinarice" de então é hoje a "agressividade, a combatividade, a luta política...". Nesta campanha o que vai mandar é o achincalhamento de Cavaco Silva, temo é que isso tenha o efeito contrário.

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quarta-feira, novembro 02, 2005

Presidenciais III

- Olha o novo cartaz do Louçã... Olhos nos olhos...

- "...Olhos no olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você passo bem demais..."

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