Ontem houve Salazar, vezes dois. Gostava que me explicassem melhor esta história dos grandes portugueses. Corrijam-me se estiver enganado, mas a coisa não era para ter acabado com a primeira eleição, a tal que elegeu o António do antigamente? Pois. Desde logo parece-me uma coisa tosca eleger um grande português, ou mesmo dois, três ou dez. O mesmo formato noutras paragens suscitou um desinteresse acentuado e acabou a eleger figuras tão previsíveis, quanto discutíveis. Portugal não tem cem anos, nem (pasmem-se por favor) duzentos ou trezentos. Acho surpreendente estabelecer comparações lineares entre figuras tão díspares, quer cronologicamente, quer naquilo que fizeram, ou na sua influência na história, na existência ou no ser Português. Dos cem melhores ficaram os noventa mais, e a amostra tem logo pérolas extraordinárias (O que é um “Hélio Pestana”?). Mas temos os dez finalistas, e destes uma competição renhida entre Oliveira Salazar e Álvaro Cunhal, o que demonstra bem a tristeza do pagode que se presta a votar nestas coisas. E a festa não acaba aqui; se um lado envia-se uma mensagem pedindo para ligar para um determinado número e pimba, vota-se no seco ditador; do outro o PCP mobilizou-se para eleger o saudoso líder. A RTP, organizadora da coisa sustenta esta palermice, e uns quantos intelectuais (?) prestam-se a defender os candidatos. Mas, o nosso país é de uma alegre bizantinice, e não bastando a tontice do serviço público, eis que surge um grupo de graçolas incontinentes de um programa de suposta má-língua a eleger o pior português. Este maravilhoso programa caracteriza-se pela habitual sobranceria bem pensante da pior esquerda, pontilhada por algum cinismo anti-sistema barato. E claro tem um palhaço. Raramente vi a coisa, e é certo que posso ter tido sempre azar, mas foi o que calhou. Destes tontos o senhor Daniel Oliveira, que corporiza o melhor exemplo do intelectual do ensino secundário, é o mais curioso. No dito programa tudo pode ser achincalhado, excepto as vacas sagradas do menino Oliveira. A menor referência o interlocutor é fulminado com os exaltados argumentos inquestionáveis deste zeloso polícia do pensamento. Mas o ridículo não tem limites e ontem à noite redefiniu-se a escala. Quando o Dr. Soares apareceu à frente (o que convenhamos, tinha piada), o nosso Trotsky de algibeira tratou logo de manifestar o seu asco (até desmentiram que se preparava uma chapelada). Volto a lembrar, isto é um programa de humor, portanto a eleição era a gozar com o esquema. Certamente por uma feliz coincidência, na mesma noite em que o destro Nogueira Pinto defende (calculo que entusiasmadamente) o velho ditador, esta trupe lutando contra hackers de braço estendido, inimigos jurados vindos de todos os quadrantes políticos ressentidos de tudo e mais alguma coisa salvou o bonacheirão Soares por 180 votos. E o guarda Oliveira rodeado por uma plateia bem pensante lá manifestou o seu alívio e simultaneamente o júbilo por mais uma punhalada no velho fascista. Claro que foi tudo regular e democrático e equilibrado e de grande confiança. Esta gente é ridícula e pior, mais que ridícula, a incapacidade que demonstrou em rir-se de si própria revela bem a alta importância que se atribui. O mais espantoso é que eles estão mesmo convencidos que são o farol de modernidade derramando luz sobre o atraso lusitano. A bem da nação, como dizia o outro.
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