Há gente que eu não percebo. Gente que é licenciada, mestrada, doutorada, MBAzada e afins, supostamente muito inteligente, orgulhosos militantes dos vários partidos da nossa democracia - sobretudo dos que são à séria – e depois dizem as mais espantosas inanidades. Um dos casos que sempre me espanta é o sociólogo Teixeira Lopes, eminente bloquista do norte. Já o ouvimos defender o chefe no indefensável, já o metralhou contra Rui Rio incansavelmente, já nos aborreceu quase ao nível de Luís Fazenda e outro dia nas páginas do Público, martelava os rankings e anunciava o caos. Claro que um terço do artigo é a cascar nas escolas católicas, e suspeito mesmo que é esse o principal motivo de regozijo entre o Grupo de Trabalho Esquerdelho-Mata-Frades. Mas o que me interessa é mesmo a questão da divulgação dos ditos rankings. O problema do senhor é que a classificação das escolas. Logo de entrada diz ao que vem, “Os rankings destroem a ideia de uma rede pública de educação porque criam um mercado educativo que concentra, num pólo, as escolas de “excelência” e noutro pólo, as escolas de “segunda ou “terceira” categoria”. Lindo. Diz mais, que os rankings são o diabo (se ele acreditasse no chifrudo), que são baseados nos resultados dos exames, que apresentam uma fortíssima correlação com as origens sócio-familiares, que os alunos das escolas fracas se sentem estigmatizados, que na Finlândia (sempre a Finlândia...) são proibidos. Não diz nada de outros países. Do alto da minha ignorância das ciências sociais, parece-me que os exames sendo iguais para todos os alunos são precisamente a melhor forma de comparação das diversas escolas, e uma ajuda preciosa para perceber e corrigir problemas. A comichão desta gente é os resultados serem divulgados e disponibilizados, pois se tudo se passasse no silêncio dos gabinetes tudo bem. Ou se tudo se passasse no silêncio dos gabinetes, talvez a indignação fosse pela sua não divulgação. Depois vem o discurso dos coitadinhos, dos excluídos, dos envergonhados, para os quais o remédio não passa por elevá-los ao nível dos outros mas em reduzir todos ao mínimo denominador comum. Tive em tempos um professor que dizia que o proletariado era um estado de espírito que se caracterizava, não por querer subir, mas por querer puxar os outros para baixo. Este discurso tem muito esta componente, e nem sequer perde muito tempo a ler o ranking, tirando a parte do cérebro GTEMF para cascar nos Jesuítas, Opus Dei e padralhada em geral. Nos últimos anos tem havido várias classificações, com critérios diferentes, e tem havido tratamento muito diversificados pela comunicação social. Admito que nem sempre sejam os mais correctos, que existam reportagens pouco sérias e até interesses à mistura, mas parece evidente que esta transparência é benéfica, quer para quem fica bem, quer para quem fica mal. Acresce ainda que da parte dos média existe sempre um grande destaque das escolas públicas, e em particular daqueles que obtêm resultados em circunstâncias mais adversas. Os colégios privados que lideram as tabelas, serão sempre favorecidos, seja pelas razões óbvias económicas, sociais, de meios seja pelo simples facto de poderem escolher quem lá entra. Curiosamente, são até um pouco desvalorizados nas reportagens. E mesmo as escolas públicas inseridas em meios mais favorecidos, vulgo burgueses para usar jargão um pouco em desuso, terão sempre resultados superiores a outras não tão afortunadas. Um exemplo, o melhor aluno numa escola de Bragança será diferente do melhor aluno de uma escola do centro de Lisboa. Um ensino público deve ser de qualidade e deve sê-lo em todas as vertentes. Não devia ser possível que uma escola no centro de Lisboa tenha umas instalações que a faz parecer um dos orfanatos onde Ceausescu amontoava deficientes. A escola pública só tem a ganhar se for comparada, e se dessa comparação, mesmo perdendo, saber explicar as diferenças. Que tem uma quantidade muitíssimo superior de alunos; que tem alunos que os particulares não querem; existem turmas maiores; ambientes menos controlados, mas também mais reais. A terrível assimetria litoral/interior também não se resolve varrendo o lixo para baixo do tapete, como muito bem diz o artigo, nem os colégios particulares no interior obtêm grandes resultados. Os problemas em cima da mesa são muito complexos e seria bom que os sucessivos governos, que brincam aos educadores do povo, algumas coisas se aprendessem com os colégios do topo da tabela, talvez algo como exigência e rigor. Eu acrescentaria um pouco de trabalho de grupo e capacidade para pensar pela própria cabeça. Leva tempo, muito tempo, mas talvez resulte.
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